Acordei e abri a porta da sala,
há um vazio imensurável no ambiente,
como se o tempo respirasse entre as paredes.
Os meus olhos procuram, sem encontrar,
a sombra do que eu fui,
e do que eu poderia ter sido,
um reflexo no vidro embaçado.
O chão guarda passos que já não ouço,
memórias desbotadas pela pressa do dia.
O vento entra pela janela entreaberta,
trazendo consigo o murmúrio de lugares distantes.
Há algo de eterno no instante,
um fio invisível que amarra o agora ao nunca.
E, ainda assim, insisto em me desatar,
em abrir portas para o desconhecido.
As palavras voam, soltas,
sem o terrível bloqueio do verso ou da rima,
como folhas que caem sem destino certo.
No espaço entre um e outro verso,
o silêncio deseja sua forma multifacetada.
E tudo o que nos resta é sentir de dentro
o coração pulsar com o que não dizemos.