Ontem tivemos a famigerada prova do ENEM. Imagino os alunos entrando nos seus locais de prova. Sentando-se nas suas cadeiras em um momento tenso. Os Colaboradores dão as últimas instruções para os candidatos. Distribuem os cadernos de questões e a folha de gabarito. E o tempo começa a ser contado. 13h. Os alunos abrem seus cadernos de questões procurando primeiro o tema da redação, que é revelado, e um misto de surpresa e responsabilidade percorre as mentes dos candidatos: “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil.” Muitos se lembram das aulas de história e de sociologia, outros refletem sobre as manifestações culturais vivas que, de alguma forma, permeiam seu cotidiano. É um tema que exige sensibilidade, conhecimento e, acima de tudo, reflexão crítica. O desafio é falar de forma respeitosa e consciente sobre a importância dessa herança, sem cair na superficialidade.
Para iniciar uma redação sobre esse tema, os candidatos poderiam apresentar teses que destacassem a necessidade urgente de valorizar e preservar a herança africana em uma sociedade ainda marcada por desigualdades históricas. Poderiam, por exemplo, defender que a desvalorização desse legado é fruto de um passado colonial que ainda influencia as práticas sociais e políticas no Brasil. Outra tese possível seria abordar como a falta de valorização cultural está ligada ao racismo estrutural, que silencia vozes e apaga memórias. Há ainda a possibilidade de argumentar que a promoção da herança africana é um passo crucial para uma sociedade mais igualitária e plural.
Ao desenvolver os argumentos, os alunos poderiam citar exemplos práticos de como o Brasil é culturalmente rico devido à influência africana: na música, na culinária, na religião e nas expressões artísticas. Poderiam destacar o papel das manifestações culturais, como o samba e as práticas culturais afro-brasileiras, como formas de resistência e identidade. Outro argumento forte seria abordar a importância da representatividade nos espaços de poder e de mídia, ressaltando como a ausência de figuras negras em posições de destaque reforça o desinteresse pela preservação desse legado. Também caberia discutir a importância de políticas públicas voltadas para a educação antirracista, que valorizem o papel dos povos africanos na formação da identidade nacional.
Um aspecto interessante a ser tratado na redação seria a persistência do racismo estrutural. Os alunos poderiam argumentar que, mesmo com avanços legislativos, ainda há uma luta diária pela igualdade de direitos e pela preservação de culturas afro-brasileiras. A criação de espaços de memória e museus que reconhecem e expõem essa história seria um exemplo a ser citado, mostrando que há uma tentativa de romper com o apagamento histórico. Outro ponto a se desenvolver seria a influência da educação no combate à desinformação e no estímulo ao reconhecimento das contribuições culturais e sociais da população negra.
A importância de um tema como esse na prova do ENEM é inquestionável. A escolha reflete a necessidade de discutir e refletir sobre uma das matrizes da formação cultural brasileira e de enfrentar os desafios que ainda persistem em nossa sociedade. Não é apenas um exercício acadêmico, mas um convite à mudança social. Ao trazer a questão da valorização da herança africana, o exame propõe aos jovens pensarem sobre seu papel na construção de um futuro mais justo e plural.
Além disso, a relevância do tema vai além da sala de aula, abrangendo questões de cidadania e direitos humanos. A discussão sobre herança africana coloca em foco a necessidade de políticas públicas efetivas e o papel do Estado na promoção da diversidade cultural. Ao mesmo tempo, desafia os alunos a repensarem suas próprias visões e preconceitos, abrindo espaço para uma formação mais crítica e consciente.
O ENEM sempre busca temas que provocam o debate e a conscientização. Abordar os desafios para a valorização da herança africana no Brasil é um chamado para que os jovens compreendam as raízes das desigualdades e o potencial de uma sociedade que se reconhece e respeita sua diversidade. A redação não é apenas sobre o que foi escrito, mas sobre o que os candidatos levam consigo ao sair da sala de prova.