A subjetividade é um conceito complexo, que permeia a literatura desde tempos imemoriais. Trata-se da experiência individual e pessoal de cada um, influenciada por percepções, emoções e valores. Na literatura, essa construção subjetiva ganha vida através das palavras, permitindo ao leitor mergulhar nas profundezas da alma humana.
No Ultrarromantismo, vemos essa subjetividade elevada ao extremo. Poetas como Álvares de Azevedo exploram temas sombrios, melancolia e introspecção. Em "Lira dos Vinte Anos", o poeta expressa seu mundo interior, cheio de anseios e desilusões. Na famosa novela "Noite na Taverna" reflete essa busca pelo entendimento de si mesmo. Veja,
"– Quem eu sou? na verdade fora difícil dizê-lo: corri muito mundo, a cada instante mudando de nome e de vida. Fui poeta e como poeta cantei. Fui soldado e banhei minha fronte juvenil nos últimos raios de sol da águia de Waterloo. Apertei ao fogo da batalha a mão do homem do século. Bebi numa taverna com Bocage – o português, ajoelhei-me na Itália sobre o túmulo de Dante e fui à Grécia para sonhar como Byron naquele túmulo das glórias do passado. – Quem eu sou? Fui um poeta aos vinte anos, um libertino aos trinta, sou um vagabundo sem pátria e sem crenças aos quarenta. Sentei-me à sombra de todos os sóis, beijei lábios de mulheres de todos os países; e de todo esse peregrinar, só trouxe duas lembranças – um amor de mulher que morreu nos meus braços na primeira noite de embriaguez e de febre – e uma agonia de poeta... Dela tenho uma rosa murcha e a fita que prendia seus cabelos. Dele olhai... O velho tirou de um bolso um embrulho: era um lenço vermelho o invólucro; desataram-no: dentro estava uma caveira".
(Álvares de Azevedo, de Noite na Taverna)
A poesia simbolista, por sua vez, aprofunda ainda mais essa introspecção. Cruz e Sousa, conhecido como o "Cisne Negro", utiliza símbolos e metáforas para representar sentimentos e estados de espírito. Em seus versos, a subjetividade se manifesta através de imagens sensoriais, como em "brumas translúcidas", que evocam atmosferas etéreas e misteriosas.
A construção da subjetividade na literatura não é apenas um reflexo do autor, mas também uma ponte para o leitor. Ao identificar-se com as emoções e experiências narradas, o leitor constrói sua própria subjetividade. A literatura, portanto, torna-se um espelho da alma, onde cada um vê refletidas suas próprias inquietações.
O conceito de subjetividade, trabalhada em diversas áreas, como por exemplo, na psicologia, na filosofia e na sociologia, ressalta, como essa experiência individual é influenciada por percepções e emoções. Na literatura, essa influência é evidente. Obras ultrarromânticas e simbolistas nos mostram como a subjetividade é moldada não apenas pelas vivências pessoais, mas também pelas interpretações que fazemos delas.
Assim, a subjetividade na literatura é um processo contínuo de construção e desconstrução. Os escritores utilizam a linguagem como ferramenta para explorar os recantos mais profundos da mente humana. E, ao fazê-lo, convidam-nos a embarcar nessa jornada introspectiva.
A literatura serve como um veículo para a construção da subjetividade, permitindo que tanto autores quanto leitores explorem e compreendam melhor a complexidade da experiência humana. É através das palavras que encontramos significado, conexão e, finalmente, um entendimento mais profundo de nós mesmos.