Eu estava ao lado de um velho amigo que conversava com entusiasmo sobre suas últimas leituras, especialmente as obras de grandes românticos. Ele gesticulava com paixão, como se suas palavras fossem pinceladas de emoções. Pensei por um momento sobre o que ele dizia, refletindo sobre como o Romantismo, que ele tanto admirava, parecia estar presente na maneira como ele se expressava, tão cheia de sentimentos e fervor.
O Romantismo, na literatura, surgiu como uma forte reação ao racionalismo do Iluminismo. Enquanto o movimento iluminista exaltava a razão e a objetividade, os românticos valorizaram a subjetividade, o sentimento e a imaginação. Era uma volta para o indivíduo, para suas emoções e experiências internas. A própria palavra "romântico", usada em nosso cotidiano, remete a essa exaltação dos sentimentos, principalmente no que tange ao amor e à paixão. Ser "romântico" é estar conectado profundamente com suas emoções, muitas vezes de maneira intensa e até irracional.
O termo "paixão", por sua vez, tem uma origem interessante. Vem do grego "pathós", que além de "sentimento", também está associado à "sofrimento". Isso explica porque, até hoje, quando pensamos em alguém apaixonado, também pensamos em alguém que, de certa forma, sofre. O Romantismo trouxe essa ideia à tona, retratando personagens que se entregam totalmente a suas emoções, muitas vezes até o ponto de perderem a razão. Os românticos não tinham medo de explorar os extremos da alma humana, das alegrias mais sublimes aos sofrimentos mais profundos.
No Brasil, o Romantismo teve seu início marcado pela publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836. Esse movimento, que havia nascido na Europa, se espalhou com força por aqui, impregnando a literatura com sentimentos nacionais e exaltando a natureza, os costumes e o povo brasileiro. Enquanto na Europa o movimento foi uma resposta ao Iluminismo, aqui, ele também dialogou com o processo de construção da identidade nacional, valorizando elementos da terra e das tradições indígenas.
O Romantismo pode ser dividido em três fases no Brasil. A primeira fase é marcada pelo nacionalismo e a exaltação da natureza, com autores como José de Alencar. A segunda fase traz o sentimentalismo e a idealização do amor, como nas obras de Álvares de Azevedo. Já a terceira fase reflete uma literatura mais engajada, como na obra de Castro Alves, que usou seus versos para lutar contra a escravidão. Cada fase, embora com características distintas, mantinha o foco na valorização da emoção e da individualidade.
Voltei a prestar atenção na conversa do meu amigo, que ainda falava com entusiasmo sobre seus autores preferidos. Percebi que, de certa forma, todos nós temos um pouco de românticos em nosso interior, mesmo que, às vezes, nem nos demos conta. Afinal, quem nunca se deixou levar pelas emoções, quem nunca se viu consumido por um sentimento tão intenso que parecia, por um momento, mais real do que qualquer coisa? O Romantismo, com sua paixão e subjetividade, ainda vive em cada um de nós, à sua maneira.