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Eduardo Nagai
Escritor e Professor de Português
Textos

SELFIE NOSSA DE CADA DIA

Eu decidi há alguns dias atrás começar a fazer academia. Foi do nada me veio isso, então, assim que começaram as férias, fui atrás de uma, e eu estava na academia, pela primeira vez em mais de uma década, tentando me acostumar com essa nova rotina. Há uma semana, decidi que era hora de cuidar mais da saúde e encarei os aparelhos de ginástica com um misto de curiosidade e receio. Entre pesos, esteiras e instrutores atenciosos, um detalhe me chamou a atenção: uma mulher mais interessada em seu tirar suas selfies do que nos exercícios. Rs. Todos lá dentro tiram, mas essa mulher estava me instigando.

 

Cada vez que terminava uma série de exercícios, ela imediatamente pegava o celular e tirava uma selfie. Seu rosto, um misto de esforço forçado e pose cuidadosamente ensaiada, parecia mais dedicado ao Instagram do que ao fortalecimento físico. Observando-a, percebi que essa era a sua rotina diária, uma performance constante para as redes sociais. Era como se o real objetivo dela ali não fosse a academia em si, mas a imagem projetada para os seguidores.

 

Essas observações me levaram a refletir sobre a era em que vivemos. A imagem muitas vezes parece ter mais valor que a realidade. O culto ao corpo perfeito, ao estilo de vida idealizado, às experiências filtradas e legendadas com perfeição. A mulher que via na academia é um símbolo de nossa era digital: mais preocupada em parecer ativa do que realmente ser ativa. As redes sociais nos oferecem uma plataforma para nos reinventarmos, mas também nos aprisionam em uma necessidade constante de aprovação e validação.

 

Enquanto ela ajustava a iluminação e ângulo para mais uma selfie, pensei em quantas vezes eu mesmo caí nessa armadilha. Quantas vezes postei uma foto de um livro que estava lendo, mais para mostrar que estava lendo, do que para compartilhar uma verdadeira paixão pela leitura. A necessidade de reconhecimento virtual pode se tornar um vício silencioso, corroendo a autenticidade de nossas ações.

 

A academia, para mim, começou a se transformar em um microcosmo dessa batalha entre ser e parecer. A cada exercício, me esforço para manter o foco no que realmente importa: minha saúde, meu bem-estar, meu progresso pessoal. As redes sociais, embora divertidas e envolventes, não deveriam ditar o ritmo de nossas vidas. A verdadeira transformação vem de dentro para fora, e não o contrário.

 

O contraste entre a mulher e minha própria jornada me ensinou algo valioso nessa primeira semana. A autenticidade é um ato de resistência em tempos de superficialidade. Ao terminar meu treino, olhei para ela mais uma vez. Ela estava sorrindo para a câmera, ajustando o filtro, enquanto eu, suado e exausto, me sentia mais autêntico do que nunca.

 

Saí da academia com a sensação de ter aprendido uma lição importante. A verdadeira conquista não está nas curtidas ou nos comentários, mas na dedicação silenciosa, no esforço genuíno, no progresso que só nós mesmos podemos medir. E assim, com esse pensamento, caminhei para casa, pronto para enfrentar não só o próximo treino, mas também a vida com mais autenticidade e menos filtros.

Prof Eduardo Nagai
Enviado por Prof Eduardo Nagai em 22/07/2024
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