"As ilusões sustentam a alma como as asas sustentam o pássaro" (Vitor Hugo)
Ao final de mais um dia exaustivo, último dia de trabalho antes das férias escolares, eu me peguei numa mesa de bar observando as multidões entrando e saindo do bar, vi alguns chorando, afogando suas mágoas na bebida, outros comemorando alguma conquista, como se fosse melhorar de vida. Outros ainda iam apenas pela rotina, para não perder mais uma noite sem beber. Todos compartilhavam suas histórias, suas vidas e suas mentiras com outros, a não ser um ou outro solitário por aí, que deviam compartilhar consigo mesmo algum pensamento, ideia, na solidão do dia a dia.
Desde os primórdios, nós, humanos, revelamos uma inclinação a acreditar em mentiras, em narrativas. A verdade, muitas vezes dura e implacável, é substituída por narrativas confortáveis e esperanças vazias. As ilusões, embora efêmeras, oferecem um alívio momentâneo das realidades opressoras. Nas promessas políticas, por exemplo, somos levados a crer que o próximo candidato resolverá todos os nossos problemas, esquecendo rapidamente as decepções dos líderes anteriores. É um ciclo interminável, onde a esperança renasce, mesmo que apenas para ser traída novamente.
No amor, a tendência a idealizar o parceiro é quase universal. As expectativas se acumulam, tecidas por sonhos e fantasias que raramente correspondem à realidade. Muitos entram em relacionamentos carregando a esperança de que a outra pessoa preencherá todos os vazios, apenas para descobrir, com o tempo, que a imperfeição é parte inerente do ser humano. Essa desilusão pode ser devastadora, mas também é uma oportunidade de crescimento e aceitação da realidade.
A saúde é outro campo fértil para ilusões. Quantos de nós já fizemos resoluções de Ano Novo prometendo dietas rigorosas, rotinas de exercícios ou mudanças drásticas de estilo de vida? A crença de que o próximo ano será diferente é uma constante, mesmo que a maioria das resoluções se perca com a passagem dos meses. A verdade é que a mudança real requer esforço contínuo e paciência, algo que muitos preferem ignorar em favor de promessas rápidas e fáceis.
E assim, seguimos nos iludindo, ano após ano, acreditando que o futuro trará soluções mágicas para nossos problemas atuais. Essa inclinação natural a se agarrar a esperanças, mesmo infundadas, é uma característica intrínseca do ser humano. Talvez seja um mecanismo de defesa, uma maneira de manter a chama da esperança acesa em meio às adversidades e incertezas da vida.
Suspirei, levantando-me desta mesa de bar, que não me leva a nada. Eu sabia que as ilusões eram parte inevitável da existência humana, mas também reconhecia a importância de buscar a verdade e enfrentar a realidade com coragem. Enquanto caminhava de volta para casa, para começar mais umas férias, decidi que, embora não pudesse evitar todas as ilusões, poderia ao menos escolher a ilusão que eu desejo seguir. E assim, continuaria minha jornada como um caçador de ilusões, sempre buscando crer e esquecer que tudo não passa de ilusão. Vem, férias!